"Todos os anos, milhões de mulheres em todo o mundo têm sua vulva e vagina cortadas cirurgicamente (musculatura vaginal, tecidos erécteis da vulva e vagina, vasos e nervos) sem que haja qualquer necessidade médica(1). Esse corte, chamado episiotomia, tem sido utilizado em centenas de milhões de mulheres desde meados do século XX, com base na crença de sua necessidade para facilitar o parto, e para a preservação do estado genital da parturiente.
A partir da metade da década de 80, há evidência científica sólida recomendando a abolição da episiotomia de rotina (redução do seu uso a no máximo 10-15% de casos), uma vez que para a grande maioria das mulheres, o procedimento ao invés de promover a saúde genital ou a do bebê, provoca danos sexuais importantes, dor intensa, aumenta os riscos de incontinência urinária e fecal, e leva a freqüentemente complicações infecciosas, problemas na cicatrização e deformidades, entre outros(2).
A maior parte das razões da persistência deste procedimento são baseadas em informações incorrectas. Alguns médicos acreditam que uma episiotomia protege o pavimento pélvico contra lacerações. Um estudo de 2005 publicado no Journal of the American Medical Association, bem como outros estudos recentes, provam que esse é um pressuposto incorrecto. Estas descobertas também mostram que não há evidencias de que um corte no perineo proteja os músculos pélvicos.
Outra razão frequentemente citada para a realização de uma episiotomia é a crença de que um rasgão natural cura-se mais lentamente do que um corte instrumental. Isto não é verdade. Um rasgão natural vai recuperar muito mais rapidamente. Rasgar é muito mais seguro do que cortar, de acordo com um estudo de 1987 feito por J.M. Thorp e outros médicos publicado na Obstet Gynecol.
A imagem que o discurso médico sugere é que, depois da passagem de um "falo" enorme - que seria o bebê - o pênis do parceiro seria proporcionalmente muito pequeno para estimular ou ser estimulado pela vagina(20). Isso poderia implicar numa autorização para que o homem procure uma mulher "menos usada" ou demande como alternativa o coito anal(21).
A necessidade masculina de um orifício devidamente continente e estimulante para a penetração seria então prevenida ou resolvida pela episiotomia, ou mesmo pela cesárea, preservando-se o estatuto da vagina como órgão receptor do pênis. No Brasil, prevalece um "sistema erótico" baseado nas noções de atividade-masculino e passividade-feminino. Essa ideia ratifica a teoria da vagina apertada ou frouxa (passiva, diante do falo que a estimula e é estimulado), em oposição à compreensão de vagina e vulva como órgãos activos, capazes de se contrair e relaxar, de acordo com a vontade feminina, pois são músculos voluntários(22).
Alguns estudos demonstraram é que as mulheres que rasgam naturalmente durante o parto, retornam à actividade sexual mais cedo do que as mulheres "cortadas" pelo médico ( Esta descoberta foi reportada por P.G. Larsson e outros médicos na edição de 1991 da of Gynecol Obstet.
Quando as mulheres têm acesso a informação e sabem que é possível ter uma vagina forte por meio de exercícios, elas passam a compreender que a episiotomia de rotina é uma lesão genital que deve ser prevenida e que elas podem recusá-la(25). Um dos recursos seria a adopção pelos serviços de saúde, no pré-natal e no parto, de um consentimento informado sobre episiotomia com base nas evidências científicas, para que as mulheres possam decidir sobre seu corpo, como já realizado em outros países.
Essa é a finalidade da Campanha pela Abolição da Episiotomia de Rotina no Estado de São Paulo, iniciada em 2003 que pretendem promover mudanças institucionais e de opinião pública para reduzir os índices de episiotomia desnecessária (lesão sexual iatrogência no parto), promovendo uma assistência ao parto menos agressiva e uma vida sexual mais satisfatória para mulheres (e seus parceiros)."
Retirado do link: http://www.mulheres.org.br/fiqueamigadela/episiotomia.html
Se está grávida fale com o seu médico, coloque-lhe as suas questões ele certamente poderá esclarecê-la e tranquilizá-la, o objectivo com esta "postagem" foi passar uma informação, certamente poderão existir opiniões que não estão em concordância com esta.
1 TOMASSO, Gisella (col.). ¿Debemos seguir haciendo la episiotomía en forma rutinaria? Revista de Obstetricia y Ginecología de Venezuela, Caracas, v.62, n.2, p.115-121, 2002.
2 COCHRANE COLLABORATION: consumer network. Disponível em: http://www.cochraneconsumer.com/. Acesso em: 2003.
20 CERES, GRUPO. Espelho de Vênus. Identidade Social e Sexual da Mulher. Rio de Janeiro. Brasiliense, 1981.
21 AUSTRALIAN BROADCASTING COMPANY. Transcript and further information for "Body of Knowledge". Disponível em: http://www.abc.net.au/quantum/scripts98/9825/clitoris.html. Acesso em: 2003.
22 DAVIS FLOYD, R. Birth as an American Rite of Passage.
24 TOMASSO, Gisella (col.), op. cit.