Falar sobre a sexualidade do portador de necessidades especiais implica também abordar o conceito de sexualidade humana de forma ampla, abrangendo os aspectos físico-biológicos,socioculturais, económicos e políticos (Salimene, 2003).
Existe uma dificuldade natural de lidar com a sexualidade e em relação a deficientes esta dificuldade acentua-se (Castelão; Schiavo; Jurberg, 2003). As crianças, especialmente as portadoras de necessidades especiais, são vistas como assexuadas, desprovidas de algo considerado “pecaminoso” e “impuro”,oposto da “pureza angelical e pueril” que quer perceber-se.
Uma abordagem adequada tem como função principal, esclarecer as dúvidas da criança,ela tende a aceitar os fatos relacionados com a reprodução humana, porém se a sexualidade é abordada de modo evasivo ou com recurso mentiras, a criança aprende que sexo é um assunto vergonhoso e feio. (Lipp,1998, p.9). Os pais devem observar como a criança lida com sua sexualidade conforme a mensagem que lhe é transmitida sobre a mesma. O facto de a criança ter por exemplo um deficit cognitivo, não significa a existência de deficiência sexual. E, neste sentido, a “frequência dessasmanifestações diz respeito não só à curiosidade natural e ao prazer, mas também à ociosidade e à falta de afectividade dos pais e educadores”(Castelão; Schiavo; Jurberg, 2003).
Segundo Gejer (2003), algumas crenças comuns sobre a sexualidade do deficiente mental são infundadas. Não se deve assumir que a condição de deficiente por si só determina o comportamento sexual. Observa-se que estas pessoas têm menos oportunidades de explorar alguma relação com seus semelhantes ou com o sexo oposto, o que dificulta a capacidade de perceber e conhecer como se comportar frente ao outro. Assim, mais que os outros jovens, a probabilidade do deficiente mental de ficar isolado da sociedade é maior. Uma consequência do isolamento social é que eles recebem menos informações sobre a sexualidade, reprodução, prevenção e contracepção. Quanto mais o jovem aprender no convívio com o outro, sendo devidamente instruído para tanto, mais fácil
será lidar com aspectos de sua sexualidade.
Muitas pessoas parecem pensar que quanto menos o deficiente souber sobre sexo, menor é a possibilidade de ele agir irresponsavelmente na área sexual. Porém, as crianças deficientes têm que aprender a lidar não só com os conflitos emocionais que os demais adolescentes enfrentam, mas
também com conflitos emocionais produzidos por suas deficiências (Lipp, 1988, p. 30). Os jovens portadores de necessidades especiais precisam aprender a discutir sexualidade no contexto de suas vidas, de modo amadurecido.
A fim de evitar a estigmatização da criança, é necessário preparo dos profissionais envolvidos com relação às questões do desenvolvimento humano e que a escola tenha clareza de seus objectivos, ao lidar com questões de sexualidade. Ao tratar deste assunto com naturalidade, facilitará a compreensão da criança sobre o mesmo e com isso garantindo o estabelecimento regras e limites que passarão a ser compreendidos e respeitados pelo educando.
SEXUALIDADE, CORPO, DEFICIÊNCIA E ESCOLA: RELATO DE UM
ATENDIMENTO
Maria F. S. Rodrigues e Carlos A. Serbena