18 de junho de 2008

ORGULHO Margarida Rebelo Pinto escreve crónica sobre Tuppersexo




Lembram-se das reuniões Tupperware que as nossas mães ordeiras, as tias solteironas, as avós desocupadas e as primas prendadas organizavam nos anos 60?
Pois é, o mundo mudou. Nos tempos que correm as reuniões são de outro teor, talvez mais útil para as donas de casa do que um jogo completo de caixas de plástico, até porque as mesmas se podem comprar em todo o lado, desde o hipermercado até à jurássica drogaria de bairro, entre o restaurador capilar e o veneno para ratos.
O princípio é o mesmo, embora os objectivos sejam diferentes: servindo-se igualmente da técnica do direct marketing, já não se trata de aprender a acondicionar 300 gr de morangos ou 20 fatias de carne assada (com o molho numa caixinha à parte, claro está), mas de conhecer, observar, estudar e eventualmente experimentar todo um catálogo de artigos relacionados com prazer: algemas forradas a pelúcia, vendas do mais fino cetim, roupa interior comestível, preservativos de variados e originais sabores, indumentárias para fantasias tais como a tigresa, a criadita e a enfermeira, chicotes, fitas de seda para domadores/as inspirados/as, bolas chinesas de vaga inspiração espiritual e objectos vibratórios para todos os gostos, tamanhos e especificidades. Ou seja, os prazeres da cozinha passaram para os prazeres da alcova, divulgados através de uma corrente de confiança, lema recentemente usado pela companhia fundada por Earl Tupper em 1946.
Em vez das qualidades inestimáveis do material plástico para a conservação eficaz dos alimentos, discutem-se os inestimáveis contributos destes objectos para o prazer: a sós, em casal, ou num regime mais alargado, para quem se interesse por tal modalidade.

As novas reuniões, a par com o aumento exponencial de cursos de dança do varão, são sinais inequívocos dos tempos modernos. As donas de casa perceberam que está nas suas próprias mãos transformarem-se em deusas sexuais e não deixam o seu crédito por mãos alheias. Numa sociedade dita moderna em que todas as mulheres ricas ou famosas têm obrigatoriamente de ser sexy, o sex appeal tornou-se um produto de consumo primário, a par do pão e o leite. Há que cultivar a Vénus escondida em cada cidadã – isto é, se ela ainda se conseguir manter acordada depois de 8 horas de trabalho mal pago, precedidas e seguidas de pelo menos uma hora no trânsito e de duas a três horas de trabalho diário no lar, o tal que não é remunerado, embora o machinho português o assuma como um dado adquirido no seu dia-a--dia. Se ainda conseguem arranjar energia para surpreender os maridos e/ou companheiros debaixo dos panos, então não restam dúvidas de que são as melhores do mundo.
O sangue latino é quente por natureza e a sociedade vai a pouco e pouco limpando os preconceitos relacionados com o prazer. É por isso que as mulheres começam finalmente a falar de sexo, querem aprender as artes do striptease no varão e organizam reuniões da Mala Roja.
Será que aprenderam com os erros das feministas fanáticas, que rejeitavam a sua feminilidade para lutar pela igualdade? Parece que sim. As mulheres modernas já perceberam que é óptimo serem mesmo diferentes dos homens. E que o seu poder advém exactamente do facto de serem mulheres. Com mais ou menos gadgets na gaveta.
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