7 de julho de 2009

PORQUE É QUE AS MULHERES VÃO À CONSULTA DE SEXOLOGIA -Reportagem PUBLICO


Rikki Kasso. Foto
http://rikkikasso.com

Publicado no PUBLICO 06.07.2009, por Maria João Lopes


Muitas das mulheres que vão às consultas de Sexologia não têm vontade de ter relações. Mas existe o avesso: algumas mulheres sofrem por se sentirem demasiado excitadas e insatisfeitas, mesmo depois de terem dezenas de orgasmos.

Foi virgem para o casamento. Depois, descobriu um prazer "louco" com o marido. Tem sempre vontade de ter sexo e os orgasmos multiplicam-se. Nessa altura, o prazer transforma-se num inferno vertiginoso difícil de conduzir. Irene (nome fictício) tem 32 anos, é casada, tem filhos e diz sofrer com o seu apetite sexual. "Já me pus na cama a testar, a estudar o meu corpo. Começo a masturbar-me e posso ter 30 orgasmos. Às vezes, quando me levanto, até caio para o lado, de tão cansada que estou. Queria ver se isto tinha um fim...", conta. Diagnóstico: perturbação da excitação sexual persistente, um caso raro nas consultas de sexologia, uma vez que a maior parte das mulheres que procura ajuda sofre de falta de desejo, não de excesso.


"O que faz o diagnóstico de perturbação de excitação sexual persistente é o facto de as sensações de excitação sexual, para além de intensas e persistentes, não serem desejadas e provocarem sofrimento, tanto a nível emocional como físico, pois tornam-se desagradáveis e incomodativas", explica Graça Santos, psiquiatra na consulta de Sexologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Apesar de sempre ter achado que era sensível, Irene - que já trabalhou numa fábrica e agora está desempregada - só se deparou com um clítoris insaciável aos 20 anos, quando se casou e começou a ter relações. Até lá, nunca imaginou o que iria sentir quando se deitasse com um homem. Gosta de realçar que a "primeira vez" foi com o marido e vice-versa. "Tenho imenso prazer com ele", frisa Irene, que há dois anos começou a ser seguida em consultas de Sexologia.
Este é, porém, um dos casos mais raros com que se deparam os especialistas. A moldura quotidiana é bem diferente: "Nas minhas consultas, só tive duas mulheres que apresentavam casos de perturbação da excitação persistente, para os quais não há tratamento eficaz. O dia-a-dia aqui é precisamente o contrário, é a ausência do desejo, o chamado desejo sexual hipoactivo", explica Graça Santos.

Pouco se sabe quanto às causas da perturbação da excitação persistente: "Pensa-se que terá a ver com causas hormonais, mas os doseamentos de hormonas têm-se mostrado normais", diz Graça Santos, acrescentando que algumas mulheres desenvolveram estas perturbações logo após terem deixado de tomar antidepressivos SSRI (inibidores da recaptação da serotonina). "Uma possibilidade é que seja a síndrome de abstinência destes fármacos a responsável pela perturbação. Mas em muitos casos não houve história de a mulher ter tomado estes fármacos", acrescenta.

Adição sexual
Mas o que distingue a perturbação da excitação persistente da adição sexual? Na adição, "embora depois dos actos possa haver arrependimento e auto-recriminações, a actividade sexual é vivida como um alívio imediato da tensão". "Pouco tempo depois, repete-se todo o processo de desejo, procura, actividade e alívio da tensão. Na perturbação da excitação sexual é ao contrário. Quanto mais se envolvem em actividade sexual, maior é o desconforto", diz a médica


Apesar de não haver uma definição consensual e de o próprio conceito de "adição sexual" não ser unanimemente reconhecido pela comunidade científica, pode dizer-se - de acordo com os especialistas que defendem que existe - que apresenta sinais idênticos aos de outras dependências. O sexo domina os pensamentos, o que faz com que a pessoa se mobilize em torno de um objectivo: a satisfação sexual. Depois de consumar o acto, e apesar de sentir gratificação sexual, a pessoa enfrenta também uma sensação de desânimo. Além disso, é habitual tentar esconder a actividade sexual que mantém e só reconhecer que tem um problema quando o emprego, a relação com a família, com os amigos e o casamento começam a ser prejudicados.


Há ainda outras perturbações na actividade sexual que surgem nas consultas e que têm que ser enfrentadas com terapia sexual ou fármacos. "Existem as perturbações do orgasmo. Há mulheres que têm orgasmos e têm uma vida sexual insatisfatória e mulheres que não têm e consideram satisfatório o sexo que praticam. Existe ainda a perturbação da dor sexual da qual é exemplo o vaginismo, uma reacção de defesa da mulher que pode ter que ver com experiências traumáticas durante a infância ou pode decorrer de radioterapia vaginal", diz Graça Santos. Neste último caso, as mulheres não conseguem introduzir nada na vagina e, por isso, não fazem exames ginecológicos nem sexo. "Temos casais que estão juntos há anos e nunca tiveram uma relação", conta.


Sobretudo no que toca a mulheres, a sexualidade parece não ser, de todo, um mecanismo simples de resposta a um estímulo.


Reportagem integral em: http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain2.asp%3Fdt%3D20090706%26page%3D6%26c%3DC

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