18 de dezembro de 2007
SEXUALIDADE DURANTE O ENVELHECIMENTO. As vitimas do amor maduro.
De acordo com as projecções demográficas mais recentes elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística estima-se que a população idosa volte a duplicar nos próximos 50 anos, representando, em 2050, 32% do total da população.
Vários estudos comprovam que a maior parte dos idosos mantêm com alguma frequência relações sexuais com o/s seu/s parceiro/a. Brecher (1984 cit por Sousa et al., 2004). Revelam ainda que 75% dos homens e 61 % das mulheres com 70, ou mais anos, são sexualmente activos e estão satisfeitos com a sua sexualidade. Mas, de acordo com este autor a actividade sexual encontra-se muito diminuída, muitas vezes associada ao declínio da velhice e á percepção que os idosos têm das suas capacidades sexuais. Num estudo que realizei junto da população mais idosa, o comentário mais proferido pelos idosos em relação ao sexo foi: “-Com esta idade menina, o que é que isso interessa?” Por outro lado alguns idosos confidenciaram sentir-se muito sós especialmente por não terem a companhia de um parceiro/a, mostrando-se muito interessados na conquista. Partindo destes factos será então importante perceber melhor o que pensam os idosos da sua sexualidade e o que pensam os outros da efectividade entre pessoas mais velhas.
No meio institucional a relação entre idosos é quase sempre vista como uma perturbação ou demência, tal facto reflecte o pensamento esteriotipizado da sociedade que condena à ridicularização e descriminação as vítimas do amor maduro.Existe um preconceito generalizado em relação ás manifestações afectivas entre pessoas
mais velhas. Enquanto que os romances dos jovens casais são encarados como “normais” e pouco reprimidos, o mesmo comportamento é coibido ou ridicularizado nos idosos.
È frequente ouvirmos dizer frases do género “Olha lá, o velho gaiteiro a tentar engatar a rapariga nova”, esta expressão revela bem, o preconceito que existe, quando um homem mais velho se interessa por uma mulher mais nova. De acordo com as ideias globais da sociedade que nos envolve, este desfasamento relacional, apenas se justifica pela patologia, mais propriamente a demência, ou então pelo interesse, normalmente atribuído à mulher, anulando assim o valor inquestionável do sentimento amoroso.
Butler (1985) afirma que a negação da sexualidade após a idade madura é o reflexo do nosso medo de envelhecer e morrer, o que cede lugar a um preconceito que se chama “velhismo”. Este consiste na discriminação sistemática contra pessoas idosas na mesma dimensão discriminatória do racismo ou sexismo. Beauvoir (1986) refere que o homem não vive nunca em num estado natural, tanto na velhice como em qualquer outra idade, o seu estatuto é lhe imposto pela sociedade á qual pertence.
È possível observar a influência do contexto psicossocial sobre a sexualidade, na medida em que se traçam perfis diferenciados para comportamentos de acordo com as faixas etárias do ser humano. A sexualidade não pode ser entendida de maneira simplista. Ela provê-se de carinho, de proximidade, dos pequenos gestos que muitas vezes constituem a vivência da sua intimidade. A dificuldade em reconhecer a sexualidade nas pessoas mais velhas assenta-se em mitos que as pessoas vão construindo. É urgente sensibilizar a sociedade e os técnicos que trabalham com estas populações que a sexualidade não passa somente pelo coito, que passa pelo toque, pelo carinho, pelo afecto. É necessário sensibilizar que o desejo não tem idade e não conhece fronteiras e que as maleitas do corpo não são, por si só, castradoras do seu poder.
Estamos erradamente habituados a dar á sexualidade, o significado somente do acto sexual. Esquecendo-nos da diversidade de práticas que a compõe. Muitas vezes com o envelhecimento perde-se a capacidade para a prática da penetração nas relações sexuais tal facto pode ser explicado por inúmeros factores que originam as disfunções sexuais. Mas não deixa por isso, de haver manifestações providas de desejo e prazer, como o toque, o beijo, entre outras. Muitas vezes o que acontece é que há uma deslocação do foco de prazer. A partir de uma certa idade, as relações sexuais que incluem penetração diminuem à medida que a idade avança, como é o caso dos indivíduos maiores de 80 anos.
No estudo que realizei ouvi comentários como:
“Isto agora já não é como dantes...”“Isto agora é umas mexidelas e já está...”
“Damos uns beijinhos e ficamos agarradinhos...”
Esta ideia de sexualidade igual a relações sexuais, tem desvalorizado a sexualidade dos idosos, fazendo com que os próprios pensem que já não o podem fazer e que isso é coisa do passado ou para as pessoas mais novas.
Durante as entrevistas realizadas na minha investigação com 45 idosos institucionalizados verifiquei a necessidade que estes sentem da proximidade do parceiro/a e de como isso influencia a sua qualidade física.
Nas narrativas que escutei e nas lágrimas que vi acontecer, encontrei acima de tudo uma certeza, que o sexo pode deixar de existir enquanto prática e manifestação física, mas que o amor...esse pode ser para a vida...e isso é sem duvida o mais importante e ninguém... tem o direito de o negar.