26 de outubro de 2009

Depois da petição para oficializar o Dia do Solteiro, fomos saber como é ir ao restaurante ou ao cinema sozinho


Reportagem do I
"Gosto da vida que levo e não tenho intenção de mudá-la. Não tenho crises de solidão, nem nada disso." Quem o diz é Fernando Alvim, de 35 anos, solteiro e feliz, muito obrigado. "Casar, constituir família e viver feliz para sempre, não faz parte do meu ideal de vida. Só tenho vontade de me casar quando vou a casamentos, mas no dia a seguir passa-me logo!"


Ser solteiro implica estar sozinho mas pode não ser sinónimo de solidão. Nem de infelicidade. Há até quem queira oficializar o Dia do Solteiro, já celebrado em vários países (a 29 de Setembro), e neste momento estão a ser recolhidas assinaturas para entregar a petição na Assembleia da República (speedparty.net).

Segundo Vânia Beliz, sexóloga, "as pessoas que têm dificuldade em estar sós, normalmente por trás está sempre uma carência emocional ou uma auto-estima muito frágil. Não devemos depender de outra pessoa para sermos mais felizes connosco mesmos."

Mais vale só... Ana Gomes tem 21 anos e está sozinha há um ano e não depende de ninguém para fazer o que lhe apetece: "Vou ao cinema sozinha, ao teatro, a exposições e até já viajei sozinha. Não deixo de fazer o que gosto só por não ter companhia." E nem a estranheza social de ver uma pessoa sozinha, a abala. "Quando fui marcar a viagem o senhor da agência só me perguntava se não arranjava mesmo ninguém para ir comigo porque saía mais barato!"


André Paiva, de 29 anos, também não se coíbe de fazer tudo o que gosta, até de sair à noite: "Se me apetece sair, saio, até porque acabo sempre por encontrar alguém." Apesar de não querer ser solteiro para sempre, vê neste estilo de vida algumas virtudes. "Em termos sociais o dia-a-dia acaba por ser mais preenchido quando somos solteiros. Há mais disponibilidade para aceitar convites e a minha vida rege-se apenas por mim."

Já Mariana Durão, de 22 anos, solteira mas "sozinha não", ainda não arranjou coragem para depender apenas de si própria: "Não gosto de ir ao cinema sozinha, nem a exposições, nem a lado nenhum. Para mim essas actividades têm um carácter social e de diversão, pelo que implicam companhia. Prefiro adiar e esperar que alguém esteja disponível para me acompanhar."

Fernando Alvim vai pelo mesmo caminho: "Invejo muito as pessoas que conseguem fazer coisas sozinhas. Eu sou incapaz, por exemplo, de ir ao cinema sozinho. Dentro de casa gosto de estar sozinho, mas quando saio preciso de companhia."

Sozinhos em casa "Existe muito preconceito em relação a mulheres que optam por viver sozinhas. Há muitas famílias que não aceitam a decisão das mulheres saírem de casa para terem uma vida independente. Neste momento acompanho uma senhora que vê a sua felicidade muito limitada porque o pai diz que ela saiu de casa para ter uma vida leviana, uma vez que não tem um relacionamento estável." Vânia Beliz acrescenta: "Quando vão viver sós, são muitas vezes bombardeadas e acusadas de não quererem ter responsabilidades familiares."
Ana Luísa Nogueira saiu de casa aos 18 anos para viver sozinha. Hoje, com 35 continua a ser dona e senhora do seu espaço: "Eu necessito de espaço e tempo sozinha. Gosto de gerir meu tempo e minha desarrumação. Acredito que duas pessoas possam encontrar equilíbrio a partilhar o mesmoe espaço, mas eu ainda não consegui. Odeio ter de dividir a casa de banho todos os dias. Odeio ter que pensar o que outra pessoa gostaria de comer em determinado dia."

Alvim já viveu dois anos e meio com uma namorada. A experiência foi boa, mas melhor é ter a casa só para si: "Não há coisas más em viver sozinho. Não há pressões, nem horários, não há satisfações a dar. E viver sozinho não é sinónimo de falência emocional. Vou tendo relacionamentos, claro, mas viver com alguém, não."

Viajar a sós Para Gonçalo Cadilhe, não há outra forma de viajar. Nestas andanças solitárias desde 1991, não troca a solidão por grupo nenhum. "Só assim conseguimos entrar noutras culturas, conhecer outras pessoas. Num grupo, temos tendência a fechar-nos e um viajante solitário acaba por suscitar a curiosidade dos povos por onde se passa, o que nos dá oportunidade de conhecer muita gente."


Ana Luísa Nogueira também não se importa nada de viajar sozinha, "principalmente para cidades com vida."


Ana Gomes queria viajar, tinha quatro dias de férias e nem um amigo disponível. Num impulso, decidiu: "Vou sozinha para a Hungria. E foi tranquilo, não me senti angustiada nem sofri de solidão. Claro que quis partilhar a experiência, mas nada que um telefonema ou uma mensagem não tivesse resolvido."

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