25 de maio de 2010

CRONICA SEMANA SABADO: Perguntas das Crianças nas visitas às escolas




Com o ano lectivo quase no fim tem sido tempo de visitas às escolas, em que as crianças do 1º ciclo têm apresentado as suas dúvidas na área da sexualidade. Apesar de fazer parte dos currículos, muitos professores optam por abordar esta temática de forma muito leve ou, em alguns casos, nem falam destes temas.


Educar para a sexualidade é um terreno sensível que muitos não ousam atravessar, mas cada visita faz-me compreender a sua necessidade.



As crianças aguardam as respostas às perguntas colocadas, sempre recolhidas antecipadamente pelos professores. Muitas afirmam não receber qualquer esclarecimento por parte dos pais, dizem que são enxotados, com as típicas frases “Quando cresceres logo sabes...” “Ainda és muito pequeno...”. Mas a verdade é que a curiosidade não se esgota e, rapidamente as sessões são preenchidas por perguntas desejosas de respostas, que tento que se adeqúem ao seu conhecimento. Nestas sessões não existem perguntas certas nem erradas e tento encontrar a melhor resposta. Inicia-se o desbravamento das ideias e fantasias construídas e, num ápice, as sementinhas, lolós, pilinhas e sexo, transformam-se em óvulos, espermatozóides, vagina, pénis e coito, entre outras.

A maior parte espera com expectativa a explicação para a viagem das sementes - muitos sabem da existência do óvulo e do espermatozóide mas poucos sabem como se encontram...


Menstruação e gravidez são outros temas minados. A maior parte das meninas deste ciclo de ensino sabem que a menstruação existe mas não sabem porquê, acham-na má e abominável, consideram-na suja e repugnante acham que não vão poder fazer ginástica perguntando se dói muito. Desmistificada a situação, parece-me que percebem a sua importância e o privilégio de existir, o que me deixa satisfeita.

Quando chega o momento de abordar a questão da gravidez as perguntas multiplicam-se sendo notórios o interesse e o desconhecimento: querem saber como nascem, porque ficam na barriga nove meses, porque nascem com um qualquer problema, como é que eles se alimentam na barriga da mãe... Algumas são por vezes difíceis de perceber, como por exemplo: “Para que servem as bolhas ou aguarelas?!” que decifro como: bolsa de liquido amniótico.


As crianças estão desejosas de perguntar e de receber respostas. Têm sido frequentes as questões mais polémicas e discutidas nos meios de comunicação social, existem muitos temas que apenas se abordam perante o questionamento dos mais novos mas, enquanto uns ainda andam preocupados em perceber como viajam as sementinhas, já existem os que, da mesma idade, colocam questões pertinentes capazes de corar qualquer um, sendo necessária uma pausa para encontrar a melhor resposta… "Porque é que existem homens que engravidam? Porque é que os padres violam as crianças? Porque é que existem pessoas que fazem operações para ter outro sexo? Porque é que é preciso namorar para fazer amor?…"


Ninguém fica sem resposta às suas perguntas pertinentes… mas há aquelas que são muito difíceis de explicar…E hoje foi exemplo disso:
"Oh, Professora: já percebi as diferenças dos meninos e até como é que se fazem os bebés, mas só ainda não percebi o que é estar apaixonada, nem o que é o amor…" Porque ninguém tem resposta para tudo confesso que talvez a resposta não tenha sido a melhor, mas como foi das perguntas mais difíceis de responder lembrei-me das respostas à pais…


Quando fores crescida vais perceber… enfim… mas é uma coisa muito boa, especial e que serve para nos fazer felizes… não respondi, pois não?


Todas as semanas, aqui

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara Dra. Vânia Beliz,
Concordo com muitas das suas observações, de facto, a educação para a sexualidade no primeiro ciclo tem muito que se lhe diga. Da minha experiência enquanto mestrando em sexologia e, com alguma (mas pouca) experiência nesta área, percebi que a educação sexual nas escolas ainda não é uma realidade desejável …mas como se sabe, as mentalidades não mudam com muita rapidez. Assim, lentamente pode ser que a educação para a sexualidade seja vista pelos mais cépticos como positiva para o desenvolvimento das crianças/adolescentes/adultos/idosos.
Quanto a última questão, por vezes existe o receio por parte dos educadores em darem informações que possam ir contra o desejo dos pais (ainda para mais na sexualidade), por isso, “temos” de ter uma postura pouco invasiva, mas esclarecedora. Desta forma, a resposta da Dra. Vânia não está errada, apenas parcialmente correcta :)
Continuação de bons trabalhos!!

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