21 de outubro de 2010

Estilos de Masturbação Feminina e o Orgasmo no Coito, DEFESA DO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO (15 Outubro)



Ausência...tenho estado ausente mas os últimos tempos têm sido recheados de muitas coisinhas pelo que fica aqui mais uma vez a promessa,de que este espaço será actualizado pelo menos semanalmente..PROMETIDO.
Hoje deixo-vos aqui a discussão do meu trabalho de investigação, lembram-se do meu trabalho de investigação sobre "Estilos de Masturbação Feminina e o Orgasmo no Coito"? Pois é a defesa foi no passado dia 15 de Outubro e tive 18 por unanimidade um MUITO BOM, que me encheu de orgulho...

Deixo-vos parte da discussão do trabalho..para que possam ler algumas conclusões, já estamos a preparar o artigo para publicação ;-)

A presente investigação teve como objectivo o estudo de um dos comportamentos mais enigmáticos da sexualidade feminina, a masturbação, de forma a compreender a relação entre os estilos de masturbação feminina e a capacidade das mulheres atingirem o orgasmo na relação sexual coital (...)

Existem poucos estudos que analisem especificamente a preferência das mulheres no comportamento masturbatório. Esta ausência contrasta com os inúmeros estudos que demonstram a influência do comportamento masturbatório no orgasmo durante a relação sexual ou durante o coito. Desta forma, prevê-se uma desvalorização da génese deste comportamento feminino, em detrimento do seu resultado final, o que poderá ser limitador. Se não percebemos exactamente o que caracteriza o comportamento masturbatório feminino, a preferência estimulatória das mulheres, assim como as variáveis que o acompanham, teremos dificuldade em compreender se este é, realmente, importante para que a mulher atinja mais facilmente o orgasmo durante a relação sexual (...)


A técnica mais seleccionada pelas participantes foi a estimulação do clítoris com a mão. Este resultado vai de encontro aos estudos que revelam a preferência da estimulação deste órgão, Hite (1976, 2002), Atputharajah (1984), Heiman e LoPiccolo (2001), Souza, 1998 cit. por Refoios e colaboradores (2009a), Refoios e colaboradores (2009a, 2009b).

Em relação ao uso de objectos, os resultados vão de encontro às conclusões de Hite (1980) uma vez que a maior parte das mulheres da amostra não revela preferência pela introdução de objectos na vagina. Quando o referem, a preferência das mulheres vai para o uso do próprio dedo(s) (...)

Nas mulheres que referiram o uso de objectos para se estimularem, quer na zona do clítoris quer através da introdução vaginal, a preferência pelos objectos variou desde o início do comportamento masturbatório até ao comportamento actual. Assim, no início da prática masturbatória, as participantes apresentaram uma preferência por objectos mais comuns e com um acesso mais facilitado, como por exemplo os alimentos de forma fálica: cenoura, banana e objectos tais como peluches, canetas, lápis, velas, entre outros (...)

Actualmente os dildos e vibradores apresentam-se no topo dos objectos preferidos pelas mulheres, no entanto, ainda é possível verificar com alguma frequência o recurso ao uso de objectos do quotidiano, como as escovas do cabelo, telecomandos, entre outros. Talvez a falta de informação acerca dos objectos de cariz sexual, ou a vergonha em frequentar uma sex-shop ou mesmo o custo financeiro destes objectos, poderá contribuir para a observação deste resultado(...)

A maior parte da amostra revelou uma preferência pela estimulação directa da zona clitoriana, comparativamente à estrutura da vagina, confirmando os estudos de Fischer, 1978, Atputharajah (1984), Hite (1980, 2002), e Refoios (2009b) (...)


Em relação à capacidade para atingirem o orgasmo quase toda a amostra refere atingir o orgasmo com a auto-masturbação. Quando questionadas sobre a capacidade de atingirem o orgasmo com a penetração a maior parte da amostra afirmou, também, conseguir atingir o orgasmo durante a prática coital o que contrasta com os principais estudos acerca da capacidade orgástica feminina. Hurbert, Apt e Raberhl (1993 cit por Refoios et al 2009a) que demonstraram, por exemplo, que somente 25% das mulheres eram orgásticas com o coito, sendo as mesmas conclusões partilhadas por Hite, (2002); Kaplan (1974) e Refoios (2009b) (...)

Apesar da nossa amostra referir uma elevada capacidade orgástica coital, as participantes referem, precisar de estimulação adicional na zona clitoriana, realizada pela própria ou pelo(a) parceiro(a) para atingirem o orgasmo durante o coito, o que é demonstrativo da importância da estimulação durante a penetração.(...)

A importância e eficiência da estimulação adicional para o orgasmo foram apontadas por diversos autores como preditoras do orgasmo na relação coital, tal como demonstraram Cavalcanti e Cavalcanti (1992); Kaplan (1974); LoPiccolo e Lobitz (1972); Rosen e Leiblum (1995). O assumir da necessidade da estimulação adicional pode estar relacionado com as características das mulheres da amostra. (...)

Na análise das respostas das participantes acerca da auto e da hetero-estimulação encontrámos resultados similares aos apresentados por Hite (1980) verificando-se que as mulheres que referem maior facilidade em atingir o orgasmo com auto-masturbação, revelam menos capacidade orgástica quando são estimuladas pelos parceiros(as), tal facto não parece relacionar-se, neste estudo, com a capacidade de solicitarem essa estimulação, uma vez que grande parte da amostra refere sentir conforto com a solicitação aos parceiros(as) da estimulação da zona clitoriana, por exemplo (...)

Apesar de a maior parte da amostra referir a estimulação clitoriana como preferencial e necessitar de estimulação adicional neste órgão, para atingirem o orgasmo no coito, 36.3% das mulheres refere não necessitar de estimulação clitoriana, e 39.2% das mulheres atribuem a mesma importância à estimulação clitoriana e vaginal. Infelizmente não foi possível verificar se estas se incluem no grupo de 13%, da nossa amostra, que não identifica o clítoris no diagrama da vulva. De facto, quando questionámos as participantes verificamos que, a maior parte, identifica apenas uma das estruturas, glande ou corpo do clítoris e apenas 15,9% referem ambas. Seria importante no futuro fazer esta análise, porque o desconhecimento desta estrutura poderá obviamente levar à sua desvalorização (...)

O facto de muitas mulheres atribuírem ao clítoris e vagina a mesma importância, e referirem não necessitar de estimulação adicional, também encontra explicação na diversidade e complexidade da resposta sexual feminina, sendo previsível que a estimulação da vagina não é tão pouco importante como se imagina. A parte anterior da vagina tem sido alvo de inúmeros estudos, cujas conclusões revelam a sua importância no orgasmo durante a penetração Para Faix, Lapray, Callede, Maubon e Lanfrey (2002) a posição de missionário durante o coito pode ser determinante para o orgasmo coital devido ao contacto do pénis com a parte anterior da vagina. Também, Levin (2007) e Brody (2007a, 2008,2009) têm direccionado os seus estudos para a actividade penetrativa. Brody apresenta uma posição mais controversa afirmando que as mulheres que se masturbam perdem a capacidade para se concentrarem nas sensações e estímulos vaginais, apresentando o comportamento masturbatório como um adverso da capacidade orgástica feminina (...)

De acordo com estes estudos que comprovam a importância da vagina como fonte de prazer, parece cada vez mais importante analisarmos a capacidade orgástica como um todo e não reduzi-la apenas em partes. Parece então cada vez mais evidente, que o prazer feminino não se encontra limitado apenas a uma estrutura, mas sim, à dinâmica de várias estruturas que podem variar de acordo com a sensibilidade de cada mulher, pelo que o estudo das preferências durante o coito poderá ser futuramente mais explorado.

O facto de quase 80% das mulheres referir atingir o orgasmo com a penetração e mais de 36% das mulheres referir não precisar de estimulação clitoriana adicional durante a penetração para atingirem o orgasmo, é demonstrativo da importância da relação coital para o orgasmo feminino, apesar desta estar cada vez mais associada a uma série de outras variáveis, tais como: intimidade; relação com o parceiro(a), apontadas por Basson (2000, 2001ª, 2001b, 2002a, 2002b,) e por Levine (1991); entre outras(...)

Tendo em conta que as mulheres indicam percepcionar mais intimidade e proximidade com o parceiro durante a prática penetrativa coital, pode justificar-se, de certa forma, a preferência feminina pela actividade penetrativa. Estudos incluindo variáveis como a intimidade no coito poderão ser muito importante para compreender a sexualidade feminina. Uma vez que Hite (1980) demonstrou que apesar de não atingirem o orgasmo muitas mulheres percepcionam a relação coital como uma prática muito satisfatória.(...)

Os resultados da amostra acerca da receptividade são claros: a maior parte da amostra selecciona o lado emocional em detrimento da habilidade técnica do parceiro, do contacto corporal, da erecção peniana e da diversidade sexual na opção dos múltiplos parceiros. Tal facto é confirmado ainda pela forma como as mulheres descrevem a sua satisfação na relação com o parceiro, apresentando uma média bastante elevada ao nível da satisfação na relação sexual.(...)

(Ilustração de Ana Ventura)

Um comentário:

São Rosas disse...

Mais uma vez, parabéns para ti, Mestre!
E também para os bichinhos carpinteiros, que tanto têm sofrido por não te andares a mexer como é hábito.
Não queres publicar a boa notícia no nosso blog? Algo que remeta para este teu post detalhado?

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...